Boa noite a todas e todos!
Saúdo a Mesa nas pessoas de Rinaldo Almeida, como eu um dos
fundadores do GATHO; do vereador Jorge Prestanista, presidente da Mesa; do
vereador Marcelo Santa Cruz, autor da homenagem; Delma Silva, representante do
Centro de Cultura Luiz Freire - CCLF e do Movimento Nacional de Direitos
Humanos em Pernambuco - MNDH-PE e da Drª. Maria das Graças, representante da
OAB de Olinda.
Senhoras e senhores.
Há trinta anos surgia o Grupo de Atuação Homossexual, o
GATHO, aqui em Olinda, no Centro de Cultura Professor Luiz Freire. Iniciando,
efetivamente, numa reunião de quatro amigos, acontecida no dia 12 de maio de
1980: José de Albuquerque Porciúncula Filho – Zé Popó, Sávio Regueira, Rinaldo
Pereira de Almeida e João Antônio Caldas Valença que, preocupados com os
assassinatos de homossexuais do Recife: o do pianista do antigo Grande Hotel,
Bamba; do bailarino Tony e do médico Marcos e, principalmente, com o tratamento
dispensado pelos jornais do Recife na época.
Esses quatro amigos resolveram chamar outros amigos, que
chamaram outros amigos e assim chegava eu, aos 21 anos, levado por dois amigos
da UFPE, Antônio Carlos – Tonhão, e Nélson Correia dos Anjos e entrei de cabeça,
tronco e membros no grupo. Foram dias difíceis aqueles. Sempre escrevíamos aos
jornais, reclamando do tratamento dado, principalmente com relação ao Diário da
Noite, o mais ferrenho defensor dos assassinos e que chegou a estampar em sua
capa: “ERA SÓ O QUE FALTAVA: FUNDADO O SINDICATO DE VEADOS”, em resposta ao
nosso Manifesto contra os assassinatos e também contra o tratamento dispensado
pelos noticiosos.
É lamentável que ainda hoje se assassinem pessoas somente
pelo fato de ser o que se é. Ao que me conste, ninguém até agora foi
assassinado por ser heterossexual.
É muito bom que esta Casa hoje abra suas portas para
homenagear um grupo que não mais existe, mas que foi o primeiro grupo de
Pernambuco a se levantar contra a violência cometida contra homossexuais. Esta
Casa (é importante que se informe), em 1983, por iniciativa de um vereador que
também defendia os nossos direitos, Fernando Gondim, aprovou Moção de Repúdio à
observância do famigerado código 302.0, da Classificação Internacional de
Doenças, de responsabilidade da Organização Mundial de Saúde, que taxava a
homossexualidade como “Desvio e Transtorno Sexual”. Em 09 de fevereiro de 1985,
o Conselho Federal de Medicina tornava sem efeito, no Brasil, esse código
302.0. É importante registrar que a OMS somente retirou a homossexualidade da
sua lista de doenças em 1992, no dia 17 de maio, que ficou conhecido
mundialmente como o Dia Internacional Contra a Homofobia e que o presidente
Lula recentemente emitiu instrumento legal instituindo esse dia aqui no Brasil.
Durante a elaboração da Lei Orgânica de Olinda, esta Casa
também avançou, pois a nossa Lei Orgânica, promulgada em 03 de abril de 1990,
explicita:
“Art. 7º. Todos têm direito de viver com dignidade.
§ 1º. Ninguém será discriminado, prejudicado ou
privilegiado, em razão de nascimento, idade, etnia, raça, cor, sexo, estado
civil, ORIENTAÇÃO SEXUAL, atividade profissional, religião, convicção política
e filosófica, deficiência física, mental e sensorial ou qualquer
particularidade, condição social ou ainda, por ter cumprido pena.”
Posteriormente, em 1999, por iniciativa do vereador Marcelo
Santa Cruz promulgou a Lei nº. 5168/1999, que estabelece penalidades aos
estabelecimentos que praticarem atos de discriminação e já neste século, por
iniciativa do vereador Ula, foi aprovada a Lei nº. 5443, de 28 de julho de
2005, que institui o dia 28 de junho como o Dia Municipal do Orgulho e
Consciência Homossexual no Município de Olinda.
Muito recentemente, a Argentina deu um grande salto na sua
legislação, felizmente para a comunidade LGBT argentina. Aqui, alguns
candidatos confundem casamento civil com sacramento religioso. Ora, é preciso
que nossos representantes se lembrem que não legislam para suas paróquias, mas
para toda a sociedade. Temos que entender que não se pode reger a sociedade de
acordo com as convicções religiosas de uns. Religião é questão de fé, de foro
íntimo. Ninguém pode ter o direito de sobrepujar outros credos ou não-credos em
prol de uma única denominação religiosa! A Igreja, meus amigos, deve ater-se a
um papel apenas no campo da fé, mais nada. Isso fica para os templos. Mas os
representantes do povo têm um papel a desempenhar no campo da democracia, mesmo
que sejam religiosos, devem saber separar as coisas: fé é fé. É por isso que o
nosso Código Civil deve ser alterado, uma vez que o casamento civil deve ser
entendido não como uma questão religiosa, mas como uma questão vinculada aos
direitos civis dos cidadãos e cidadãs, afinal casamento deve ser entendido como
um direito dos seres humanos e não como apenas um privilégio de heterossexuais.
A luta continua. Temos que batalhar muito ainda pela
aprovação da lei contra a homofobia e também por uma Lei da Igualdade, nos
mesmo moldes das legislações da Holanda, Bélgica, Espanha, Canadá, África do
Sul, Noruega, Suécia, Portugal, Islândia e Argentina.
Podemos afirmar que o GATHO marcou época no desabrochar da
luta dos movimentos libertários da política sexual, com determinação e garra
contra o preconceito homofóbico e a discriminação, destituída de qualquer base
científica, mas nem por isso menos opressora. Nosso grupo não chegou a se
tornar uma organização institucionalizada, mesmo tendo publicado o extrato do
seu seu estatuto, no Diário Oficial do Estado, no dia 09 de novembro de 1985,
mas, por controvérsias internas a respeito da sua oficialização,
desarticulando-se ainda em fins de 1985, contudo tendo atuado de forma acanhada
até 1989. Podemos ter certeza que a lição que deixou ainda hoje fomenta a
história de vários cidadãos e cidadãs LGBT, despertando o sentimento de respeito
por si. Conscientizando-o que pode e deve ser visto como alguém igual a
qualquer outro, mesmo sendo diferente. Afinal todos os seres humanos têm, entre
si, diferenças físicas, culturais, comportamentais e sexuais significativas.
Ser diferente não é ser melhor nem pior. É apenas ser!
Antes de encerrar, quero fazer uma homenagem aos nossos
companheiros de luta que já morreram: Bernot Sanchez, Zé Popó, Onildo Leite,
Sávio Regueira, Wilma Lessa, João Antônio Mascarenhas, David, Roberto de
França, o nosso Pernalonga, entre outros que conosco caminharam lutando.
Companheiros de hoje, a nossa luta não acabou. Continuará sempre até que
tenhamos conquistado os nossos direitos fundamentais.
Muito obrigado.
Jackson Cavalcanti Junior
Foi com o maior prazer do mundo que me deparei com esta publicação do meu texto neste Blog do Fórum LGBT, pois não sabia que havia sido publicado além do meu blog.
ResponderExcluirObrigado, companheiros!